Este calor que foge em arrepios desconcentra-me do que tem de ser. É esse o mal dos aquecedores, o calor foge-nos pelas costas, pelas arestas mais ariscas das nossas extremidades, pelos abanos das orelhas e pelas ideias. Prefiro o frio a entrar pelas costuras mais laças da roupa, pelas juntas mais distraídas da felicidade, o frio a despertar-nos a consciência, a avivar-nos a memória do corpo.
Sentei-me perto do chão para escrever. Sim, gosto muito de ver as coisas de cima, sempre gostei de ser o maior da minha classe, ainda maior que o Francisco e, mais tarde, maior que o Barrote, mas prefiro sentar-me cá em baixo quando quero falar de coisas maiores que eu, talvez seja mesmo só por uma questão de perspectiva, sei lá.
Quando me desconcentro do que tem de ser, o meu caos foca uma aleatoriedade de coisas mais ou menos interessantes, num turbilhão que, sem presunção da minha parte, deixaria muita gente à beira da náusea. Lembro-me vagamente do tempo em que disparava em todas as direcções sem nenhum ponto comum que não fosse eu mesmo, actor dos meus devaneios, personagem principal dos meus sonhos, lembro-me vagamente de não te conhecer.
Apanhaste-me sentado aqui no canto, a escrever sobre ti, desarmaste-me com um sorriso mal entraste no quarto. Quando não irrompes pela porta, apareces no desarrumo do pensamento, de forma recorrente, ora a sorrir sem pressa, ora a rir alto, numa dança cómica. Quando surges assim, o resto esfuma-se por tempo indeterminado, não sei (nem quero saber) como evitá-lo.
Quando me sento perto do chão para falar de coisas maiores que eu, tu sentas-te sempre ao meu lado e trazes paz à minha pequenez.
22.1.09
Crónica pequena sobre coisas grandes.
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