O nome, com ares de adjectivação sincera, parecia dizer tudo, sobre todas as coisas deste lugar, àqueles que, mais por hábito que por defeito, julgam o mundo depressa demais. A memória das gentes perdeu o passado daquelas casas, daqueles caminhos e daquelas amarras, ninguém conhecia Porto Pequeno além da memória do Sr. Mário, a primeira pessoa que me falou naquela manhã. O farol tem uma data raspada numa lage, 1785, o tempo em que a luz lá de cima era alimentada a lenha, disse-me o Sr. Mário, supondo mais que aquilo que sabia.
Cheguei numa manhã fechada num cinza claro que fez com que não notasse o porto, lembro-me que estava demasiado entretido com o contraste entre o branco das primeiras casas e o escuro da pedra que fazia o caminho para reparar no que quer que estivesse fora de um raio com uns quatro metros, de qualquer forma, o nevoeiro não o permitia. Trouxe só o que consegui meter na mochila de estimação, um carinho que me desfazia as costas, e um cachorro que encontrei nos últimos dez quilómetros, feitos à caça de uma boleia que nunca apareceu. Mais tarde, quando percebi que o pobre me tinha adoptado como dono, passei a chamar-lhe Fiel.
Só há três barcos em Porto Pequeno, lembro-me de contar mais de vinte, gostava o Sr.Mário de recordar quando, numa qualquer manhã de fim de semana, aparecia algum curioso de máquina fotográfica em punho e mapa no bolso. Um deles, a Rosa II, uma traineira de quinze metros com mais de meio século, foi-me oferecido quando comprei a minha casa, entre uma lágrima envergonhada e dois goles de whisky. Não me agradeças, disse o Sr. Mário naquela noite, eu é que te estou grato.
Gostei bastante deste post.
ResponderExcluirAdoro histórias simples, sobre gente simples, contadas de maneira... simples.