10.5.09

Gente Estranha

  Todos sabiam que o Nº6 da Rua Fernando Pessoa era uma casa de gente estranha. Era pelo menos esta a descrição que as pessoas que moravam nas redondezas lhe davam. Claro que chamar casa a um hospital é optimismo, e chamar gente estranha a doentes psiquiátricos é mau gosto. Mas era assim que os locais viam aquele edifício e os seus peculiares moradores.

  As paredes exteriores eram brancas, com largas zonas onde a tinta tinha fugido para parte incerta, e as janelas eram como olhos fechados. Por muito que se focasse e desfocasse era impossível ver lá para dentro. Isto, como é de esperar, dá asas à imaginação de vários. É mais interessante criar vidas e histórias que viver numa total ignorância.

  Por dentro, as paredes estavam pintadas num cor-de-rosa pálido, perdido entre o salmão e qualquer outra cor pouco marcante. Diziam os entendidos que este tom acalmava os moradores, contribuindo assim para um ambiente mais são. Tendo em conta que falamos de gente estranha, o termo são não tem o significado que vulgarmente se utiliza. Mas todos os que lá moravam tinham a sua parte de são e de estranho. O desafio está em saber onde acaba uma e começa a outra.

  E são essas pessoas que dão a verdadeira cor às paredes daquela casa...

  (to be continued...)

Um comentário:

  1. Fico à espera da segunda parte. E gostei da expressão "janelas como olhos fechados". Segismundo ataca de novo, após grande ausência em parte incerta.

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