É o nosso exercício diário, o de viver como quem canta o tempo e o tom certos.
A Rita ofereceu-me uns headphones, nome estrangeiro para auscultadores, pelo natal, daqueles que cobrem os ouvidos num aconchego de espuma negra, que abafam o fernezim da rua, os taxistas de apito fácil, a urgência das ambulâncias, a indignação das senhoras que andam sempre carregadas com sacos cheios de problemas e os miúdos espalhafatosos que se esquecem sempre do cinto das calças.
Uma tarde destas, encostado a uns degraus, de uma sujidade singular, perfeitos para filmar uma qualquer cena de um filme indie, tão alternativo quanto a subcultura urbana retratada, aconchegado das orelhas, voz riscada que o meu cigarro diário não se atreve a almejar, demorei-me mais do que o recomendado pela consciência e, ironia, tropecei numa, vamos chamar-lhe ideia, que não me sai da cabeça.
Cada um apanha a canção como pode, uns logo de início, afinados e no compasso, alguns aos tropeções, outros ainda, desistem sem serem notados. Nesse intervalo arrastado com direito a banda sonora, percebi que, algures entre a mania que sou criativo e a evidente falta de jeito, dou o meu contributo à melodia, cultivando entusiasmo. E não me lixem, isso eu sei fazer.
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