25.7.09

Catarse miudinha ii)

Os que me conhecem vão achar que estabelecer um paralelismo entre o insucesso nas coisas que faço e a minha sombra é, no mínimo, demasiado fácil. É coisa de quem escreve sem esmero, de quem preguiça sobre as palavras, num fraseado descuidado e arrastado que busca num monitor a pena e a compreensão total de outros que tais, convenientemente anónimos.

Perdoem-me então, porque esta é uma daquelas madrugadas que seguem um daqueles dias que ninguém quer ter.
Não é hábito vir aqui para dizer que almocei carapaus grelhados, que até estavam muito bons, tendo em conta que não eram um bife, não é costume vir aqui contar que vi um bocadinho de todos os programas de todos os canais da Tv-Cabo nova cá de casa, enquanto fazia desaparecer metade duma caixa de Carte D'Or, como uma gaja que acaba de descobrir que o namorado a deixou, por estar gorda ou outra coisa qualquer, parva, das que fazem os namorados deixar as namoradas. Não é normal vir aqui escrever que cortei o cabelo à rapazinho e fiz a barba como se fosse domingo, uma meia hora que até serviu para descobrir que aquele cabeleireiro demasiado alegre, o do centro comercial, afinal também tem uma namorada, contra todas as minhas suspeitas de que ele, todo festinhas e pulinhos, era do clube dos que gostam das coisas erradas, de que ninguém fala quando ele está por perto. Sobretudo, não é comum eu vir aqui para contar que, a meio deste dia que ninguém queria ter, descobri que o meu trabalho de meses não serviu para absolutamente nada, que está tudo como quando comecei, que o meu insucesso sombra, mais uma vez, fez o papel de puto malvado, que espezinha todos os castelos de areia que vê na praia, com aquele sorriso de satisfação proibida que sempre me fez confusão num corpo tão pequeno.

O meu primeiro dia de férias, o que era esperado há meses, como uma visita do tio emigrante que trás sempre prendas enormes, coisas estrangeiras, alegrias com sabor a manteiga de amendoim, afinal, não foi nada bom.


2 comentários: