11.10.09

Bigodes de pirata, gin pela garrafa e gente como nós.

Somos uma espécie de clã selvagem, eu e os que comungam comigo, da mesma loucura e da mesma garrafa. Afiamos os bigodes e enfrentamos a noite de frente, piratas sem perna de pau, artilheiros de sorrisos que desarmam toda e qualquer má disposição. Não somos esquisitos no rum, que a cavalo dado não se olha o dente, e não estamos em tempo de vacas gordas, o festim, entre nós, rega-se com o que aparecer, sobretudo com entusiasmo, que é o que mais há por cá.
Sexta-feira começou ao jantar, pitéu mexicano à mesa, merecedor de estrela michellin, que eu nisto dos tachos esqueço-me sempre da modéstia, condimentado no tom certo para afinar com a velha amiga, viva e fresca. A janela aberta deixava adivinhar uma dessas noites que se esqueceu de vir em Agosto, e o bafo quente lá de fora, a par com o bafo quente do supracitado, e fabuloso, Chilli com Carne, encorajou-nos a regar abundantemente a conversa, até porque o programa estabelecido convidava a tomar um certo balanço, e quando demos por nós, estavamos extremamente atrasados e nada preocupados.
Seguimos para o arraial, que se esperava, como se quer, uma grande festa de gente onde a única regra imperativa é a boa disposição. Um relato exaustivo do decorrer das festividades não seria, ao contrário do que os leitores terão, porventura, antecipando aquando o inicio da leitura desta frase, um aborrecimento, aliás, muito pelo contrário! Só não o farei porque a memória tem o terrível hábito de me pregar partidas, sobretudo quando se trata de recordar os soberbos acontecimentos de sexta-feira. Não deixo no entanto de mencionar que a música devia estar boa, a bebida devia estar a ser oferecida, a noite deve ter permanecido de verão, que o frio não se fez notar, e as pessoas deviam estar loucas.
Não me tomem já por inconsequente, que é sem esforço que recordo ter encontrado as nossas vizinhas Bolachas, que passaram por nós num turbilhão de caracóis louros, muito decididas a ir dançar a música que passava na altura, e que acabaram por voltar atrás para uma conversa animada, de quem é vizinho estimado, apesar de anónimo, e só ao fim de uns anos é que passa a ser conhecido, por força de uma qualquer feliz circunstância. Lembro-me claramente, para minha infelicidade, de a meio da conversa, mais precisamente no momento em que o ausente Segismundo era tema central, principalmente porque ninguém acredita à primeira que esse seja mesmo o nome dele, ter aparecido um fulano impudico, com a nalga bem de fora, a fazer uma dança esquisita. Ainda houve alguém que perguntou se era aquele o Segismundo, equívoco que ficou prontamente esclarecido quando o Gimenez se chegou à frente, num acesso de orgulho, e disse, Não, aquele ali é um amigo meu. É importante contextualizar a intervenção, para que não se perca entre frases pobres a magnificência do momento, o Gimenez resolveu sair à rua com a metade esquerda do rosto barbeada e a metade direita por barbear.
O resto da noite decorreu sem sobressaltos, tirando uma ou outra manifestação mais violenta de afecto para com pessoas desconhecidas que insistiram em ser inconvenientes, uma ou outra caipirinha que decidimos levar emprestada, na barriga, uma ou outra abordagem feminina mais entusiasta, que acabava por nos obrigar a desarmar o sorriso, e algumas eventuais, e naturais, horas brancas.
Penso que nenhum de nós, accionistas desta aventura, terá particular interesse em recordar a manhã do dia seguinte, se bem que me chegaram aos ouvidos histórias de quem tivesse acordado em casa e cama alheia, com companhia plural e de memória falida, mas isso não são assunto spara aprofundar nesta casa, que é de respeito.

Até ao próxmio jantar do bigode.

Um comentário:

  1. Ahahaha que cómico! Isto trouxe-me à memória muito boas recordações...ou muito boas vagas ideias, va...

    Mas tudo o aqui é relatado e me foi permitido assistir está bastante presente, mais o jeito do nosso vizinho em arranjar imperiais em açuuureane xD

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