Chamavam-lhe o baile dos sem-ninguém. E não era nem mais nem menos que isso. Uma banda debitava ritmos que apelavam à dança, e quem lá estava dava-lhes uso. Tango, para os mais arrojados, gavotte para os mais conservadores. Samba, para os animados, valsa para os cabisbaixos. Foxtrot, para os americanos, passo doble para os europeus.
Havia de tudo para todos os gostos. Ali, cada um podia ser quem quisesse, não havia olhares julgadores nem segredos sussurrados entre dentes.
As portas estavam sempre abertas e todos eram bem-vindos ao baile. Não era preciso convite ou cartão de sócio, só conhecer alguém que já lá tenha ido e estivesse disposto a partilhar a morada. Não vinha anunciado nas páginas amarelas. Não por vergonha, apenas como tentativa de tentar manter este local como uma espécie de segredo bem guardado que só se revela em confissões sussurradas que começam por 'o que te vou dizer não podes repetir a ninguém!'.
E porque nesse baile nem tudo é ciúme ou desencontro, foram muitos os que de lá saíram com alguém pela mão. Havia noites em que uma estrela brilhava para alguns, e entre os passos de dança e os compassos da banda iam-se juntando, até que a certa altura deixavam de pertencer ao baile dos sem-ninguém. Porque essa era a única condição de entrada.
in 'O Baile dos Sem-Ninguém', Mendes
Qual era a morada então?
ResponderExcluirTambém gostava de saber onde é que isso fica.
ResponderExcluirE quem sabe dar lá um saltinho para dançar hum... um kuduro! =)
ahah, estou a sentir um baile em germinação.
ResponderExcluirvamos! dar uso ao corpo e à banda!
ResponderExcluirEu ia mais para um Tango, mais visceral, mais encantador... que venha o baile pois então!
ResponderExcluir