Era preciso descer um caminho íngreme, esculpido no meio de duas rochas que desciam a pique até uma praia escondida. Deve ter sido feito por alguma entidade celeste. Nenhum homem conseguiria abrir um caminho assim, com uma descida em ângulo recto tão acentuada até ao fundo. Terá sido um desses deuses que se puseram a voar mais perto do sol com asas falsas, ou outro qualquer que num dia de pouco trabalho lá por cima decidiu brincar num recreio que não era o dele.
Mas a verdade é que o caminho lá estava, sempre lá esteve, e por muito que o mar lhe batesse, não parecia dali sair.
A descida era perigosa. Os degraus eram apertados e estavam todos encavalitados uns em cima dos outros. Em alguns troços tínhamos de dar o passo na esperança que a pedra onde assentávamos todo o peso não caísse.
Mas todos os que se atreviam a essa viagem voltavam de lá diferentes. 'O vento fala mesmo conosco', diziam alguns ainda emocionados pelos conselhos que a nortada lhes trazia.
E se eu lá fosse a baixo, o que será que ouviria? O caminho assustava, mas a perspectiva de receber conselhos de alguém que já esteve em todo o lado era tentadora.
Decidi arriscar e ir ouvir o que me esperava ao fundo da descida. Pé ante pé, lá cheguei ao fim. Deitei-me na areia a tentar recuperar o ar que tinha perdido durante o caminho e fiquei calado à espera que o vento me sussurrasse qualquer coisa ao ouvido. Durante todo o tempo que lá fiquei, só ouvi o barulho do mar e das ondas. Levantei-me, e voltei a subir tudo o que tinha descido.
E realmente o vento fala conosco, é só preciso saber ir aos sítios certos para o ouvir.
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