22.12.09

Natal dos Hospitais

Ainda não tenho idade suficiente para ter desconto sénior no cinema, por isso não sei até que ponto é indicado começar uma frase da maneira seguinte. Mas aqui segue o atrevimento...

Ainda sou do tempo em que ver o Natal dos Hospitais era uma actividade da quadra em questão que quase rivalizava com a ceia, ou até mesmo com o nascimento do Menino. Era uma tarde inteira passada à frente da televisão, em que as pausas para casa-de-banho ou para trincar uma bucha tinham obrigatoriamente de coincidir com os intervalos do programa. Eram cinco ou seis horas do melhor que o entretenimento nacional tinha para dar.

E, infelizmente, o Natal dos Hospitais continua a oferecer o melhor que o entretenimento nacional tem para dar. Mas este já não entretêm. Desde bailarinas com fatos 100% poliéster a abanar as ancas ao som de músicas de Natal tocadas em xilofone, à Ruth Marlene a dizer com um ar atrevido e maroto a crianças de oito e nove anos frases do calibre de 'quando o rapaz quer mexer sem ter licença', passando ainda por bandas com tão pouca qualidade que nem conseguem coordenar os tempos e os instrumentos com os do playback, e acabando no triste número dos tristes palhaços tristes.

Isto para não referir que toda a emissão era um ping-pong entre o Hospital de São João no Porto e um outro qualquer na capital. Já não chega ser só um hospital, é preciso espalhar o mal pelas aldeias. E para isto funcionar é preciso então procurar o dobro de falta de talento que seria preciso se continuássemos com o modelo mono-hospital. Isto no entanto tem a vantagem de dar o dobro da diversão que teríamos com esse sistema.

Na Invicta tínhamos o Jorge Gabriel e a Sónia Araújo, que ganhou um lugar no Guinness pelo sorriso aguentado durante mais tempo. Na capital tínhamos o João Baião, que apresenta qualquer coisa, desde que o posso fazer aos pulos. E todas as nove horas de emissão (sim, porque agora este certame arranca logo depois das notícias da manhã) foram um demorado jogo do empurra com a emissão entre Porto e Lisboa.

A melhor coisa que saiu deste espectáculo foi o facto da economia portuguesa ter sobrevivido no último trimestre devido ao boom da venda de gorros de Pai-Natal. Porque as pessoas só se divertem realmente quando põem um gorro que pisca na cabeça.

Tirem-me a ceia e o jantar, os sonhos e as rabanadas, a família e o nascimento do Menino, o Presépio e a árvore de Natal, só peço é que me devolvam o meu Natal dos Hospitais.

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