Era um banco de jardim, daqueles verde-garrafa, posto no meio da relva de frente para o lago onde alguns patos vinham à borda pedir umas migalhas de pão. Com quatro pé e corações esculpidos a canivete, iguais a tantos por esses jardins fora.
Serviu de esconderijo a primeiros beijos nervosos e atrapalhados. Recebeu casais apaixonados que ali passavam tardes em silêncio. Testemunhou juras de amor eterno, que para uns não durou mais que meia dúzia de dias, mas que para outros durou uma vida inteira. Ajudou a gestos românticos grandes e sonoros, que envolviam anéis de brilhantes, ou gestos pequenos como uma flor apanhada num canteiro vizinho. Co-compôs um sem número de baladas, e co-escreveu poemas sobre o azul do céu, o brilho dos olhos e todos esses assuntos de maior importância para uma alma em estado de graça.
Mas a cena a que assistia agora tinha, ao contrário do habitual, pouco de romântico. Ela chegou mas ele não. No seu lugar estava uma carta fechada, com o destinatário escrito a letras frias e impessoais. Ela abriu-a e leu em voz alta, para o banco também ouvir:
Conta lá onde os escondeste. Fechaste-os a sete chaves no peito, ou largaste-os ao vento para alguém os apanhar? Em que gaveta da memória ficaram eles trancados? Podes ficar com as noites em branco, com as mágoas afogadas em gelo e limão, com os minutos que gastámos em silêncio. Mas os beijos são meus. Esses quero-os de volta.
E foi assim que o banco de jardim, habituado a finais felizes, conheceu o amargo sabor do fim de um romance.
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