3.3.10

Não há bolas em Berlim

Começo esta crónica de viagem com uma nota histórica, para ver se consigo transmitir alguma credibilidade a quem me lê. A construção de Berlim foi inspirada em Paris. O arquitecto responsável pelo projecto, Sr. X (nome fictício por questões de privacidade, seguramente não por eu não fazer a menor ideia do nome do senhor), imaginou uma cidade com avenidas largas que vão dar a um ponto comum, jardins e muitas árvores. Claro que eu não sabia isto, nem sequer pesquisei na internet ou em livros da especialidade. No meio dos passeios apanhei um tour de turistas chineses e juntei-me a eles o tempo suficiente para ouvir algumas curiosidades. E curioso é também o facto de as árvores em Berlim estarem todas numeradas.

Posto isto, posso falar sobre a minha viagem. Foi de certeza muito menos intelectual do que a dos chineses acima, todos com máquinas a tiracolo e sempre a tirar fotografias a tudo o que o guia apontava. Conselho para quem viaja: sempre que precisarem de um estranho para tirar a fotografia de grupo da praxe, escolham estes amigos de olhos em bico. Dominam o aparelho com uma perícia de quem cresceu a fazer aquilo, abanam a cabeça com um ar sorridente e não querem fazer conversa, não fazem perguntas do género de ‘onde é que carrego para tirar?’, e têm uma bela noção de enquadramento. São sempre apostas garantidas.

Voltando agora à viagem em si. Acho que já esgotei todos os apartes que tinha a fazer; sigamos. Não decorei um único nome das ruas por onde passei. Para mim era tudo ‘aquela rua ao pé da filarmónica, e a outra perpendicular ao tiergarten e paralela à praça do parlamento’. Tinha dificuldade em ler os nomes das estações, quanto mais decorar palavras com oito e nove consoantes.

Impressões de Berlim? Para alguém com formação ou olho para arquitectura, a cidade deve ser única. Arquitectonicamente parece-me muito bem conseguida. Edifícios avant-garde que ligam muito bem com outros mais óbvios e tradicionais. Isto, claro, sou eu a dizer. Pode ser uma parvoíce como outra qualquer. Ainda desenho as casas da mesma maneira que desenhava na segunda classe, com aqueles telhados em perspectiva que aos 7 anos são um avanço técnico gigante. Deixo abaixo um desses edifícios avant-garde de que falei atrás e que foi, talvez, o que mais gostei - a Filarmónica de Berlim.


Diz quem lá foi que a sala principal é do calibre do edifício, e que a acústica é única. É como ouvir o concerto ao colo do maestro. Infelizmente não posso comprovar isso.

Uma das ideias com que fiquei é que Berlim é uma grande cidade para artistas ou aspirantes a. Um dos sítios obrigatórios a visitar é um prédio em ruínas que foi ocupado por várias pessoas que lá trabalham e fazem negócio. E o trabalho / negócio passa principalmente por escultura e pintura. O ambiente é estranho e pouco apelativo, mas vale a pena ir, mesmo não se gostando do que lá se vende. Tudo o que eu possa escrever é vago e não transmite o que é realmente o sítio. A fotografia abaixo faz melhor trabalho.


As pessoas que lá vi são da estranheza do sítio e dos trabalhos...

Outro ponto obrigatório em Berlim é o memorial do Holocausto. Não tem uma parede gigante com nomes, números ou outros factos da 2ª guerra. Não precisa, toda a gente conhece o que aconteceu e os números da guerra. E talvez por isso o impacto seja tão grande. A fotografia abaixo é só para dar uma ideia do que estou a falar.


E isto não faz, de todo, justiça ao original. Isto é apenas uma pequena parte do memorial. São centenas destas campas de pedra. Sem um único nome, uma única inscrição, um único número.

Como despedida, obrigado e até ao próximo destino!

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