Sou um grande adepto de futebol. Algumas vezes, atrevo-me até a dizer que a maioria das vezes, mais adepto de futebol em si que do meu próprio clube. Enquanto fui crescendo, nunca o vi a ganhar nada de grande relevo, merecedor de festa rija. Só o vi mesmo a ganhar dois campeonatos. Mas enfim, não se muda de clube. E talvez por isto não tenha uma grande veia de fãnzice clubística, o que me torna um frequentador pouco assíduo de estádios.
Prefiro ver os jogos em casa. Mesmo que, e isto raramente falha, alguém (geralmente do sexo feminino) se ponha de pé em frente da televisão em alturas críticas. Parece que escolhem. Durante um pontapé de baliza, está tudo sentado e quietinho. Enquanto o jogo está parado, idem. Mas agora quando é um contra-ataque perigoso, com grandes hipóteses de dar em golo, é fatal como o destino que alguém se vai pôr de pé, e tapar o fim da jogada.
Ou que muitas vezes ver o jogo na televisão implique ouvir comentadores com uma vaga noção de como realmente se comenta um jogo. A época dos dois homens a formar um triângulo já passou. Também já há nenhum que se exalte com as jogadas emocionantes. Agora são todos analistas. Imagino-os, durante os jogos, a passear na cabina dos comentadores com um dispositivo 3G topo de gama, que permite arrastar bolinhas que passam por jogadores. Falam todos com uma voz serena e hipnotizante, e só querem saber das linhas intermédias das transições defesa-ataque. Já não há gritos, saltos e enervamentos.
Mesmo assim, tendo visto nos últimos anos todos os jogos em casa, sempre tive um fascínio pelo estádio de futebol. E esse fascínio prende-se muito mais com a atmosfera em redor do jogo, que com o futebol em si.
Nunca fui ver nenhum jogo em que tenha saído do estádio a dizer 'Sim senhor, que grande espectáculo de bola'. Mas saí, isso sim, a dizer 'Sim senhor, que grande leque de palavrões que aquele homem ao meu lado sabia'. Todos os palavrões que gritei enquanto fui crescendo, aprendi-os num estádio de futebol. Não fazia a menor ideia do que significavam, mas como me diziam sempre que o que se ouvia ali não se repetia a mais ninguém, imaginava que não fosse coisa boa.
Outro ponto alto de se ver um jogo num estádio (sim, porque aprender palavrões é um ponto alto para qualquer rapaz) é o pré-jogo. O caminho, desde o carro/metro, até à porta de entrada. As pessoas que, 3 horas antes do jogo, já não têm no coração as cores do clube, mas um rótulo de cerveja. Os velhos que nunca largam o rádio de mão, nem mesmo durante o jogo. As roulotes, com as suas chapas para fritar que não são limpas desde que o estádio foi inaugurado, que vendem o típicokit courato + mini. A hola, obrigatória em qualquer jogo. Os olés para o adversário. As frases que se dizem ao árbitro e aos ódios de estimação da outra equipa. Tudo isto faz parte do encanto de se ver um jogo ao vivo.
E ainda assim, não me lembro de última vez que fiz tudo isto. Presumo que a preguiça de sair de casa para ir ver o que, a maioria das vezes, é um mau jogo de futebol fale mais alto. O que é estranho, porque de tudo o que envolve ver um jogo no estádio, o jogo em si é quase sempre o menos interessante.
PS - no que me toca, deixei para aqui acumular teias de aranha e poeira em todo o lado. Peço desculpa aos nossos 3 leitores (gostaria de adjectivar com 'assíduos', mas acho que seria esticar a corda). Agora estou de volta do interregno, e espero que para ficar.
Finalmente! Isto tem andado uma anarquia.
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