3.11.10

Vinte e quatro.

Os pássaros assobiam as primeiras claridades lá fora, declarando oficialmente mais uma noite em branco. Tenho sono. Não teria qualquer dificuldade em adormecer se tentasse, a cama é do melhor que se pode pedir, macia e bem guarnecida de coberturas, o cansaço é do que pesa no corpo, como uma subtil multiplicação da força de gravidade que se traduz numa lentidão de paquiderme à medida que me vou arrastando de divisão em divisão, só não me apetece ir dormir, por enquanto. O silêncio do meu dia velho vai sendo interrompido, a espaços, pelo bulício do dia novo dos outros.
Esqueço-me sempre, algures entre a rotina e a inércia, que cada dia é, espante-se, um dia novo. Pior, tendo a confundir uns dias com os outros e acuso-os, injustamente, de serem todos iguais. Reclamo da ausência da novidade como quem reclama que a sopa está insossa, e atrevo-me a apontar o dedo aos que, de uma forma ou de outra, estão próximos o suficiente para serem responsáveis pela falha.
Salpico o vidro da janela com impressões da ponta do nariz, alternando as ideias entre quem é o chefe da cozinha da vida e a quantidade de tons de azul que são inventados todas as madrugadas. Decido ir dormir, afinal, para amanhã estão guardadas vinte e quatro horas, todas novas, se eu quiser.

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