10.12.10

Café Cheio

Acabo de almoçar e vou ao café três portas ao lado. 'Churrasqueira Xico: comida take-away', anuncia uma faixa em letras grandes e orgulhosas. Sentados na esplanada estão dois senhores de alguma idade a olharem atentamente, quais falcões em busca da presa, para uma estrada deserta.

Entro e sou atendido pelo homem, atrevo-me até a dizer a lenda, que dá o nome ao estabelecimento. O Xico apresenta-se sorridente, com uma t-shirt que realça (e deixa um pouco a descoberto) uma barriga que chega a qualquer lado com alguns segundos de avanço. A testa ligeiramente lustrosa e os cabelos de lado molhados. Enquanto os mecânicos comprovam que estiveram a trabalhar num carro com as manchas de óleo, os donos das churrasqueiras apresentam o suor como prova do calor das frituras.

Depois da conversa 'então, tudo bem?' inicial, faço o meu pedido. Era um café cheio e um copo d'água, se faz favor. Agora vai ter de esperar um bocadinho, que está na hora do meu, responde-me o Xico, enquanto se senta. Bebe o seu café, fuma o seu cigarro, conversa com o companheiro de mesa sobre cheiros. O tema pareceu-me apelativo, mas infelizmente não consegui ouvir o conteúdo da discussão.

Passados dez minutos, depois de ter bebido, fumado e espreguiçado, dirige-se calmamente para dentro. Põe o chapéu de cozinheiro com muito cuidado, fazendo lembrar os preparativos dos cirurgiões antes de entrarem no bloco operatório. Depois dessa cerimónia, lá atende o meu pedido.

Isto sim!, é o verdadeiro café (no sentido de local, não da bebida). Não são cá esses estabelecimentos que a maioria das pessoas costumam frequentar, em que são servidas logo que se sentam. Ainda vou lá voltar antes de me ir embora. Acho que vou ter de jogar com a hora do futebol ou da novela.

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