3.2.11

Livro dos despautérios ii)

Não consigo decidir o que é pior, ter de ir dormir ou ter de acordar. Empato o sono com assinalável destreza, recorrendo à inércia de um qualquer desinteresse televisivo ou cibernético, geralmente embrutecedor do intelecto e invariavelmente dispensável. Não sei que tipo de bicho me mordeu esta aversão à cama, mas presumo que será da mesma família do que, todas as noites, me morde uma preguiça incapacitante que se manifesta à hora de levantar. Muito mais que uma caprichosa falta de vontade, a manhã, ou a tarde, dependendo dos dias, trás com ela uma moleza avassaladora. É comovente a intensidade dos argumentos esgrimidos na luta que vou travando com a minha consciência, enquanto lanço as mãos numa desgovernada busca do botão que adia o martírio da verticalidade, dez minutos de cada vez. Não consigo decidir o que é pior, suportar as pequenas violências que nos afastam do que é ser, em essência, um vegetal, ou tolerar o inacreditável espaço que damos às trivialidades. 

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