25.3.11

Livro dos despautérios v)

A receita conta-se pelos dedos de uma mão. A farinha, da que estraga os olhos lindos da moleira, o isco, que vem sendo ressuscitado, semana sim semana também, desde ninguém sabe quando, o sal, que é a alma, a água, morna como a pele, e o amor, para garantir que tudo cresce. Os sentidos são a balança que, ao contrário dos mecanismos convencionais, aumenta de precisão com o uso do tempo.
O pão é como uma história sem segredos. Um bocadinho de atenção descobre o calor do forno, a moagem do grão e a dureza da água, o peso das mãos de quem amassou e o tempo que se esperou a massa.
O meu sono nunca se vai acostumar à noite dos outros. Não é insónia nem é espertina, é ser padeiro, de berço e de vontade.

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