O movimento lá fora é quase nulo. Só se vêm os ocasionais bêbados, que devoram com um ar absorto o pacote de vinho que lá conseguiram `cravar´ a alguma alma caridosa. Conversam com ele, riem-se das muitas piadas que ele diz, aconchegam-no debaixo do braço com redobrado cuidado, não vá haver um acidente que possa criar moça no fiel companheiro de / para bebida.
Do sítio onde estou sentado vejo também as habituais residentes desta rua desde que o sol se põe. Encostadas à parede, com as pernas cruzadas mastigam uma pastilha elástica com um ar atento a quem vai passando na rua. Quando se aproxima alguém que lhes prende a atenção, dirigem-se até ele com um ar provocante e despachado:
- Queres companhia esta noite?
O convite, ou proposta, se olharmos para o lado financeiro da questão, repete-se várias vezes por noite. Pelo ar desiludido com que voltam para se encostar à parede, a maioria das pessoas que lá passam não querem companhia.
Mas elas lá continuam, assobiando a quem passa e seduzindo quem pára.
Arrumo os livros, cadernos, canetas e saio. A noite não é para mim. Deixo-a para quem lá fora ainda agora começou a trabalhar.
"A noite não é para mim"
ResponderExcluirSe Deus nos tivesse criado para viver durante a noite, teriamos todos nascido cegos.
Carpe diem - sease the day... not the night!
(Também eu já estou farto da noite)