20.3.09

Biblioteca

Queima-se mais um dia na biblioteca. Olho para o relógio e vejo o ponteiro dos minutos a aproximar-se perigosamente da hora certa. 11 da noite não são horas para ninguém...

O movimento lá fora é quase nulo. Só se vêm os ocasionais bêbados, que devoram com um ar absorto o pacote de vinho que lá conseguiram `cravar´ a alguma alma caridosa. Conversam com ele, riem-se das muitas piadas que ele diz, aconchegam-no debaixo do braço com redobrado cuidado, não vá haver um acidente que possa criar moça no fiel companheiro de / para bebida.

Do sítio onde estou sentado vejo também as habituais residentes desta rua desde que o sol se põe. Encostadas à parede, com as pernas cruzadas mastigam uma pastilha elástica com um ar atento a quem vai passando na rua. Quando se aproxima alguém que lhes prende a atenção, dirigem-se até ele com um ar provocante e despachado:

- Queres companhia esta noite?

O convite, ou proposta, se olharmos para o lado financeiro da questão, repete-se várias vezes por noite. Pelo ar desiludido com que voltam para se encostar à parede, a maioria das pessoas que lá passam não querem companhia. 

Mas elas lá continuam, assobiando a quem passa e seduzindo quem pára.

Arrumo os livros, cadernos, canetas e saio. A noite não é para mim. Deixo-a para quem lá fora ainda agora começou a trabalhar.

Um comentário:

  1. "A noite não é para mim"

    Se Deus nos tivesse criado para viver durante a noite, teriamos todos nascido cegos.

    Carpe diem - sease the day... not the night!

    (Também eu já estou farto da noite)

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