Não é que seja um descuido, mas apesar de não raro, cair na descrição física literal de determinada situação, quando sobre ela escrevo, não me agrada particularmente. A riqueza dos momentos não é coisa que se resuma a adjectivos, ainda que estes possam ser sublimemente dispostos, coisa que será mais para outros que para mim. De qualquer modo, defendo com convicção não haver palavras que, na sua prosa ou poesia, possam almejar, ainda que semeadas em terras da mais fértil imaginação, a intensidade da visão, do paladar, do olfacto, da audição ou do tacto. Ironicamente, são eles, os sentidos, que, arrebatadores, me compelem a escrever.
Adormeces no sofá pequeno, aquele com os braços de madeira, a fazer lembrar os armazéns de revenda de móveis holandeses, num novelo enternecedor. Deixo-me embalar pelo sossego da respiração, pelo vago sorriso, pelos contornos perfeitos, rendo-me sem pressa a cada pormenor.
Já aqui falei sobre a efemeridade das memórias, sobre a proporcionalidade inversa que existe entre velocidade da vida e a nitidez sua impressão na fita das lembranças, já aqui falei na minha urgência em abrandar momentos, só para ter a certeza que vão ser mais díficeis de esquecer. Desculpa esperar pela madrugada para te levar até à cama, mas não queria que um qualquer capricho do tempo me levasse esse novelo de ternura para sempre, não sem um bocadinho de luta.
Já aqui falei sobre a efemeridade das memórias, sobre a proporcionalidade inversa que existe entre velocidade da vida e a nitidez sua impressão na fita das lembranças, já aqui falei na minha urgência em abrandar momentos, só para ter a certeza que vão ser mais díficeis de esquecer. Desculpa esperar pela madrugada para te levar até à cama, mas não queria que um qualquer capricho do tempo me levasse esse novelo de ternura para sempre, não sem um bocadinho de luta.
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