13.8.09

Mar é

O que se faz anunciar sempre da mesma maneira, que a minha memória, nas coisas dos sentidos, é fonte segura, uma brisa que entra pela janela do carro, numa alteração subtil da densidade do ar, que se vai inspirando devagar, como manda a calma do caminho. Inconfundível.
Duas mãos cheias de dias, cheios de lugares, cheios de gente, cheia de vida, diria eu, se a inspiração fosse coisa para evaporar com o calor, e daí, até pode ser que seja.
Ter o mar por perto, que aliás, foi a única condição imposta ao norteio do rumo, por unanimidade, também altera subtilmente a minha densidade. Certo é que, não tão grosso modo quanto isso, toda a gente gosta do mar, ainda que de formas diferentes, mas eu, qual cliché romântico, reajo instantaneamente à maresia, mudo a minha presença com uma intensidade perceptível até aos olhos dos mais incautos. Tenho uma costela de pescador, tenho dito, e se o futuro, nos seu desígnios mais ou menos aleatórios, for meu amigo, reserva-me uma casinha de paredes caiadas, empoleirada numa falésia sobranceira a um areal de aguarela, uma cadeira apontada ao pôr do sol e uma barca azul com um nome de poema.

Agora que a poeira do regresso começa a assentar, começo a sentir a falta do mar

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