Todos vocês sabem o que é uma toranja? Alguma vez se aventuraram nessa experiência que é demolhar as papilas gustativas com esse suco que jorra, infernal, mal lhe espetamos a colher? Eu já. E é esta experiência, que vos ofereço hoje a conhecer.
Antes de mais, apresento-vos as papilas gustativas: estão presentes principalmente na língua, mas também em menor número no céu da boca e na garganta, são responsáveis pelo reconhecimento do sabor das diferentes substâncias. São elevações do epitélio oral e lâmina própria da língua.
Já me chamaram homem das frutas, tentava eu dar a perceber, a um amigo, a razão de ser do sabor que as suas amigas papilas desfrutavam quando eram submetidas a um compal de maracujá. Vinha com 3 dessas pequenas bolinhas amolgadas no bolso, (p'ra cigarros e bilhar) (não liguem ao últimos parentesis). Ainda não sei se gosto do que me chamaram ou não. Mas sei que gosto de fruta. Tenho essa sorte, a de já ter apresentado às minhas papilas todas as frutas cujos sumos já me permiti tragar.
Agora que percebem o meu fascínio pelas frutas, levam com a toranja: é um citrino híbrido, resultante do cruzamento do pomelo (Citrus maxima) com a laranja (Citrus x sinensis). Também é conhecido pelos nomes: pomelo, jamboa, laranja-melancia, pamplemussa, laranja vermelha, laranja-romã entre outras denominações.
Com a promessa de não vos impregnar com mais definições, ouço a campainhada da minha mãe. Ajudei a subir as compras do mês. Vêm sempre num Saco grande (SG) cheio de sacos pequenos (SP) Entre elas, lá estava a bela, redondinha e chamativa toranja, vestida com um saquinho de plastico, com um adorno de papel que dizia: 2,30e. Passeava-se, altiva, deambulando e ajustando-se pelo SG à medida que tirava os outros SPs do SG.
Chegou a vez da princezinha, que tirei com cuidado e fiquei a admirar. "É uma toranja. Põe açucar por cima, e come com uma colher." Tomei o conselho da minha mãe como uma ordem, e dei por mim já com meia toranja envolta na minha mão, a brilhar. Pôr açúcar? Esta é uma das coisas que me desagradam. Gosto das coisas ao natural. De lhes tomar o gosto.
Sem açucar. Experimento a colher. Entra sem esforço de maior, e rapidamente se enche de uma cor que se apresenta sucolenta e saborosa. Chegou o momento. Levo a dita à boca.
Não é hábito meu, mas por vezes minto: A toranja é uma árvore subtropical, cultivada para o seu amargo vegetal que, originalmente, foi nomeado a "proibida fruta" de Barbados.
Uma guerra. As minhas papilas disparam em máxima força. Tudo o que me permite sentir, me diz que se instaurou a guerra. Ainda vai no começo e já chamam reforços. As glândulas lacrimais jorram em força, mas a guerra é dentro da cavidade bocal. Coordenadas erradas. Trava-se agora uma luta feia e, para dificultar, as glândulas que viriam reforçar, atacam-me a cara. Foi de repente que as papilas pararam. Fim. O adjectivo certo é: AZEDO. Não volto a provar uma toranja, pensei. "Porque és parvo! Mania de comer as coisas ao natural... experimenta com açúcar! Não sejas tosco."
Segunda tentativa.
Vou ao armário. Açúcar. Já está. Camada brilhante, que, assim que chegou, num montinho adocicado, rapidamente desapareceu. Hora H. Ritual do costume. Colher, boca.
Barbados: País mais oriental das Caraíbas (Caribe), situado no Oceâno Atlântico, a leste de Santa Lúcia e de São Vicene e Granadinas, na área conhecida como Ìndias Orientais. A sua capital é Bridgetown.
Desta vez sim. Eu não sei o que é, nem se existe, e os que sabem não vivem para contar, mas o paraíso não deve diferir muito do que se passava na minha cavidade bocal. Imaginei flores, e harmonia, e colibris, e estrelinhas, e todas essas mariquices dignas de se querer ver.
"Obrigado mãe"
Peguei na outra metade (as toranjas partem-se ao meio e comem-se às metades) e fui para o meu quarto deitar-me na cama a desvairar-me com tanto sabor. Acordei 3 horas depois, e a rádio dizia-me que nela a pinta nua, nua, numa chama dele e dela.
Pensei para mim: Isto com açúcar... aposto que é outra dança!
Muito bom o texto. Nunca comi toranjas, hei-de experimentar. Teresa
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