20.10.10

Outono, outra vez.

A vontade anda timbrosa e o humor anda como os dias, mais ou menos húmido. O amor anda caduco, desafina com qualquer ventinho e cai todo para o chão, como as folhitas estaladiças, que morrem todos os anos só para alimentar metáforas e que ficam por aí a amarelar a cidade até que alguém as apanhe. O malabarismo é difícil e a única certeza é que, ainda que esteja sol agora, mais logo pode chover, ou ao contrário, pouco importa para o caso. Os Outonos de ser gente obedecem, ainda que não por regra firme, à ordem das estações como as conhecemos, sendo, portanto, comummente precedidos por Verões quentes, melosos e curtos. É só no fim dos Verões que o sono tira férias, para garantir que não perdemos pitada do que vai esmorecendo à nossa volta, e damos por nós a tentar encontrar desculpas esfarrapadas para amaciar o espírito, como as cores que são tão bonitas, ou o cheiro que vem do chão, ou o quente das castanhas que, ao quilo, nos custam a jorna e os sapatos, e um bocadinho da alma, se formos mais pobres. Quem esteve atento às lições de estudo do meio, saberá de antemão que um bocadinho de persistência e uns meses de galhos despidos, apontados ao céu, são suficientes para que a sorte se denuncie e o jogo recomece do início. No entanto, por enquanto, é Outono, outra vez.





Um comentário:

  1. Aconteceu-me exactamente isso no outro dia. Num momento estava no metro, alegre e contente a cantarolar um hit dos anos oitenta e a pensar que a vida era bela com o cheiro das castanhas mais este friosinho de sol sem nuvens...no momento a seguir, estava na rua a maldizer a chuva mais o desencanto dos dias. Enfim, dizem que é do tempo...

    ResponderExcluir