24.12.10

Queijadas de Limão.

Tens de ir buscar três ovos. São especiais, os ovos, muito distintos e singulares por diversas razões. São comida para todas as mesas, das mais ricas às mais pobres, ou não fizessem eles par perfeito tanto com a mais ordinária das chouriças como com a mais refinada das trufas. Trás um limão pelo caminho, bem grande. O limoeiro está enorme, muito maior que no dia em que esgravatei o meu nome nele, com o canivete em que não se podia mexer. A memória dos cheiros é uma faculdade soberba, se me encostasse aqui, tinha lembranças para a tarde toda. Tens de raspar o limão todo, de medir duas canecas de açúcar e uma de farinha. Nada que leve mais açúcar que farinha pode dar errado. Agora, o cheiro lembra-me o meu avô, que vai observando atentamente, sem nunca falar, e o tempo em que o ficava a ver amassar o pão. Sempre achei que os meus horários de padeiro são coisa de família. Só faltam duas canecas de leite e uma colher grande de manteiga derretida. Mistura-se tudo, sem contemplações piegas nem segredos misteriosos. Usa a varinha da sopa, para ficar tudo bem suave. 
Liga o forno a cento e sessenta graus. Ou cento e setenta. Não te queimes Zézinho. A espera, de trinta ou quarenta minutos, conforme o tom dourado da crosta crocante que se vai deixando formar em cada uma das formas do tabuleiro, cuidadosamente untadas com manteiga antes de terem sido enchidas, até cima, serve para ir recordando o tempo em que o Natal brilhava nos olhos dos mais pequenos. Agora são vocês que fazem os doces, já viram?  
Vamos tentar tirá-las. Calma avó, quando nós éramos pequenos, esperar era um martírio, agora é a avó que tem pressa? Sou, tira-as agora que o avô não está a ver.

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