7.3.09

Insónia

Tic. Tic. Tic.

Oiço a torneira pingar desde que fechei os olhos. Viro-me para um lado, viro-me para o outro, e ainda crio um terceiro lado para me encolher. O tempo vai fugindo num remoinho, que teima em ficar a girar por cima da minha cabeça. Como eu, não tem para onde ir.

Tic. Tic. Tic.

Continuo a ouvir o pingar, lá ao fundo. Fecho os olhos, e acompanho o compasso das gotas com o indicador da mão direita. Tento fazer um padrão, um ritmo, uma música. Já tenho o indicador da mão esquerda em contraponto, a encher os espaços vazios. Respondo ao tic da água com um toc surdo, numa qualquer dança estranha. Não me parece que isto vá dar em nada.

Tic. Tic. Tic.

Fecho os olhos, mas hoje não é o meu dia. Tento esvaziar as ideias, enrolá-las todas numa bola entre os dedos, e atirá-las para o canto do quarto. Acerto num vulto de contorno suspeitos. Na luz é um tão prosaico candeeiro de pé, mas no escuro tem formas soltas, ângulos fechados, cor vazia. Mas, ainda assim, o sono não chega. Vou continuar nesta dança até o sol chegar.

Tic. Tic. Tic.

Não há nada mais solitário do que uma insónia

Um comentário:

  1. Cada jogo tem a sua beleza, até o ritmado irritante de uma torneira mal fechada. Pingo a pingo se constrói uma insónia - e um bom texto.

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